acabou
O Point do Arrumadinho agora vende caldo de sururu a DOIS reais.
E cerveja Primus (pra levar) a 1,70.
Eu, vocês, viria logo, antes que as coisas piorem ainda mais.
hard times
embora os temas continuem surgindo e a vontade de escrever existem tô sem tempo de me manter em bom funcionamento. Tenho usado o tempo livre pra dormir. Em breve, retomamos a programação normal.
frança - esse lugar exótico
A França é longe mas é pertinho. O que inventam lá, a gente fica logo sabendo. Fernando, o doutor, quis copiar até o desenho da moeda deles. Ele acha a França linda. Lá na França tem movimento social pró-desemprego e um monte de coisas que não fazem o menor sentido para nós, humanos. Uma coisa que copiamos da França, ou de algum país vizinho, é essa idéia de meia entrada para estudante em eventos culturais. Aqui no Brasil também é assim. Nossos 200 milhões de irmãos-em-pátria têm o direito de, ao provar que são estudantes, pagar apenas metade do preço.
Se você é desses que tem curiosidade de saber de onde vem o dinheiro que rende na poupança (como assim, ele simplesmente "cresce"? como assim?), deve se perguntar para onde vai a outra metade do ingresso. Se você paga metade, quem paga a outra metade? Na França, é o Estado. Importante salientar que a França é um lugar estranho: lá escrevem palavras enormes para pronúncias curtinhas. Letras e letras desperdiçadas. A palavra "faisaient" se pronuncia "fesé". Eles provavelmente têm muito tempo a perder. Devem ter dinheiro de imposto sobrando. E por isso, o governo se dá ao trabalho de pagar a metade do ingresso de cada estudante que paga a entrada de um cinema, um teatro, um espetáculo de dança contemporânea, um museu, tudo. É um dinheirão gasto para incentivar estudantes - mesmo que marroquinos - a terem uma vida cultural ativa.
Já o Brasil, é um país sério, sem dinheiro sobrando e com muitos problemas graves a resolver. Aqui, a sociedade civil organizada ajuda o Estado no que pode. A gente mesmo se resolve. O estudante quer pagar meia porque na França é assim? Paga! E quem paga a outra metade do ingresso? O artista. É a classe artística e o movimento estudantil em interação direta. Simbiótica. Fica sem pagar. É benefício mesmo. Direto. Um dá, o outro mete. O Estado brasileiro tem coisa mais importante com o que se preocupar. Já pensou? Pagar a outra metade de todas as pessoas que provam ser estudantes? Em Salvador, por exemplo, mais de 120% da população é estudante. Dos quase três milhões da região metropolitana, temos uns três milhões e meio de estudantes. Ia ser muito dinheiro. Uma terra que já tem tanto estudante assim, não precisa desse tipo de investimento.
Na França, onde o povo não toma banho e ser artista é considerado profissão, essa gente que faz graça e fuma maconha pra escrever é tratado bem e respeitosamente, assim como um médico ou um juiz. É realmente um país singular. Nem sei porque é referência. Fernando, o doutor, deve entender.
Eu sou estudante. Acho que todo estímulo que se puder dar ao estudante, é válido. Estudar precisa ser uma coisa positiva. Que agrega valor. Se tiver como recompensar mais o estudante assíduo e dedicado, melhor ainda. Precisamos de todas as formas viáveis, provocar o desejo de estudar.
Eu sou artista. E já tenho meus problemas. Já não tenho grana escoando de lugar nenhum para que eu trabalhe. Já não tenho mercado. Tenho que formar platéia. Produzo um produto, que se vender pelo preço de custo, sem lucro, já fica caro demais. Sou um pedreiro que compra tijolo a dez reais, e só consigo entregar o muro construído a cinco, porque a dez, ninguém compra. Muitas vezes porque quem tem não se interessa e quem se interessa não tem.
Se existe meia entrada, quem paga a outra metade? Se existe meia entrada, quem tem o direito? As duas questões são a mesma questão, na verdade. Porque se o Estado pagasse a outra metade dos ingressos, teria preocupação em controlar as carteiras de estudante. Mas o Estado não considera isso um problema. Porque quem perde? O pequeno artista. E que valor tem o pequeno artista para o Estado?
O grande, é famoso, cobra 120 reais por apresentação. Que é na verdade, duas inteiras. Aí quem paga meia, paga o que seria uma inteira, e quem paga inteira ou é rico ou é abestalhado. O grande resolve o problema dele. O pequeno (96% dos artistas) se tentar isso, morre de fome.
Sendo eu pequeno artista, passo a me sentir sacaneado com essa história de meia entrada. Acho que o Estado tem que olhar pra mim e para os menores (leia-se, com menos grana e estrutura) do que eu. Mudar isso da meia entrada, ajudaria bastante. A UNE não repassa nada pra ninguém. Nem o governo. Eu quero saber da minha outra metade, cadê.
Pronto, comecei.
Salvador agora é Paris.
gringos
Ouvi essa história de uma fonte confiável.
Cai o muro de Berlin. E alguns dias depois, uma TV alemã faz uma reportagem mostrando a fila em frente à biblioteca nacional, que ficou do lado ocidental. Eram os alemães do lado oriental, que ficaram impedidos de devolver os livros que pegaram emprestado, por causa do muro. Uma fila do lado de fora do prédio. Dezenas, com seus livros nas mãos. O repórter escolhe uma velhinha para entrevistar. E ela diz que na perseguição ideológica dos alemães orientais, destruir livros subversivos era prática comum, e teve de esconder muito bem escondido aquela obra para o dia em que pudesse entregá-la de volta ao acervo da biblioteca nacional.
Decente.
Mais interessante ainda é que, enquanto essa história era contada, uma senhora ao lado ouvia. E contou em seguida, que trabalhou numa escola, que foi avisada de que os militares estavam chegando para revistar a biblioteca. A diretora da escola apavorada diz: "queime os livros subversivos!" e deu a lista. Ela queimou. 6 anos depois, virou bibliotecária, e ficou se sentindo um lixo por alguns anos.
Mas passou.
bahia! zero!
Local: Produção do Teatro. É dia. Camilo está agoniado com qualquer coisa, passa com jeito apressado, como se tivesse algo importante para resolver. Luiz, com o gancho do telefone na mão o interpela fazendo sinal para que pare. Enquanto fala lança um olhar de oportunidade: "o que você faz hoje no fim da tarde?". Camilo responde que depende do que Luiz vai dizer.
- Quer gravar um spot?
- Pra fazer propaganda da gente?
- Não, pra ganhar dinheiro.
- Claro.
- Ok, fala aqui com ela.
Luiz passa o telefone para Camilo. Segue diálogo.
- Alô?
- Oi, como é o seu nome?
- Camilo.
- Oi Camilo. Você tem 23 mais 1 anos, não é? Estamos procurando atores mais ou menos nessa faixa de idade para gravar uma locução.
- Ótimo. Como é que faz?
- O Estúdio Zero é aqui no começo da Cardeal da Silva... É assim: Você vem, grava, e trinta dias depois chega o pagamento, cem reais, se o cliente aprovar o resultado...
- Como assim, "se o cliente aprovar"?
- É porque pode ficar bom, pra gente, mas o cliente pode considerar que não é adequado, então...
- Mas se o cliente não aprovar, eu não recebo nada?
- É, porque a locução não vai ser usada.
- Entendo. Mas eu vou ter gravado.
(curto silêncio)
- É. Mas é porque tem os custos de...
- Ok. Calma. Veja só. Eu sou artista, sou produtor, me fodo também, faço trabalho publicitário também, sei como é. Não me explique, não. Sei também que Salvador não é São Paulo. O que eu quero que você entenda, é: 100 reais já é pouco. Mas por 100 eu faço. Faria até por 50, nesse momento, ótimo, mas mesmo se e o cliente não aprovar, eu vou ter trabalhado, se eu vou aí, gravo, volto, só de gasolina você já tá me devendo 10 reais, por baixo. Você não pode não me dar nada.
- Olha só, isso não sou nem eu que resolve, é o pessoal do financeiro...
- Então faz assim. Fala com quem resolve, pega meu número, eu conheço inclusive outros locutores, mas sem uma grana mínima garantida não dá pra trabalhar.
- Tá. A gente liga pra você.
Até parece.
Dedico esse post de hoje a Tiago Lima, que saiu da Bahia atrás da vida boa mas insiste em voltar a essa terra de ninguém.
estréia alert
Alô dona de casa:
Figurino novo. Cenário novo. Elenco novo. Banda velha. 20 minutos mais curto. Mesma irreverência.
No dia 05, grande estréia, com coquetel e coisa e tal, tem covnite pra quem pedir.
Solicitações no meu e-mail. Vamos lotar essa bagaça.
ps.: só tem convite pra estréia.