29.6.07
  conspirações
Sou, já faz uns meses, vizinho da CIA. A própria. A Siaiêi. No prédio do outro lado da rua, quando me mudei para o centro, tinha uma Unimed. A sua localização estratégica permitia que os funcionários observassem atentamente o que se passava na sala de casa. Eles, reservados e acortinados, ficavam menos expostos.

Pouco depois, a Unimed foi para a Euclydes da Cunha, mas já saiu de lá também, e nunca mais a vi. Nunca fomos amigos. No tempo em que fomos vizinhos, um de frente pro outro, só alguns olhares. Fingindo que não olhava.

O prédio ficou vazio. Familiarizamo-nos com a placa de aluga-se. Há pouco tempo ainda lembrava o número que estava escrito. Quando começaram a pintar e mobiliar, ficamos na expectativa de quem seria nosso próximo janela indiscreta.

Gringos. Americanos. Chegaram vermelhos das injeções contra febre amarela e tifo.

Nosso Big Brother particular. Dia, noite, chuva ou sol, tem alguém no sofá, discutindo animadamente com outro alguém. Entenda-se por animadamente um volume que obriga uma TV ou um som ligado para que não nos sintamos parte da conversa. Mesmo eles estando do outro lado da rua. O horário desse programa de auditório sui-generis vai de 9h às 2h, com poucas interrupções para os comerciais. De noite, recebi as vezes os destaques da programação: "hoje apareceu uma barata na sala, eles ficaram loucos!".

Indagamo-nos por muito tempo quem seriam e o que faziam. Dir-lhe-ei que o esforço na empreitada foi pouco. A fantasia certamente é mais divertida que a realidade. Missão antropológica; missão protestante civilizatória; espiões da CIA procurando as armas químicas; cobaias de um experimento secreto que seleciona americanos para viver nos trópicos e contar como será a vida em Seattle depois do aquecimento global e assim por diante.

A brincadeira começou a se desfazer. Um carro parado desde ontem, estampa bonequinhos bem feios como logomarca (coisa de ONG que 'ajuda' terceiro mundo) e o título Cross-Cultural S????? - Ação Social. No auge da minha hipermetropia, não consegui desvendar uma das palavras. O outro hipermétrope da casa se animou: "Cross-cultural Soldiers!, sabia que eram da CIA! Cristãos! Cristãos da CIA!". Depois pudemos observar mais de perto: Cross-Cultural Solutions - Ação Social.

Quase. Sabia que a verdade teria menos graça.

Agora, saberemos tudo sobre eles. http://www.crossculturalsolutions.org/
No site, a chamada edificante: trabalhe lado-a-lado com os nativos e sinta a outra cultura entrar como nunca antes!

Lá neles.
 
25.6.07
  sanjão
Pulei fogueira.

Foi bom.
 
20.6.07
 
Mãe, Helenita estava certa. Batizar foi a coisa mais correta a se fazer. Mesmo sem a prática, o cumprimento da parte burocrática tem seus benefícios.

Os que são batizados têm seus nomes registrados em um cartório de algum divino distrito da burocracia do além-nós-aqui. Com o nome devidamente registrado, sem taxa adicional, você participa de sorteios e a providência divina lhe dá uns prêmios vez ou outra.

São dez números sorteados. Acertei nove, uma vez. Quebrei o pescoço e fui jogar vôlei. No sorteio de hoje, foram 5 pontos. Com 5 acertos de 10, você ganha duas impossibilidades de curto-alcance. O prêmio foi entregue na hora, e duas coisas impossíveis me aconteceram:

Ia perder (de novo) em uma disciplina da faculdade. A professora olhou pra mim, pensou, calculou. Me passou. Porque estava afim.

No mesmo dia, carregando um monte de coisas grandes e sem muito jeito de serem carregadas, no Alto das Pombas, passa um táxi. Táxi! O cara faz sinal de que não vai poder parar. Aí muda de idéia e pára (intervenção misteriosa de forças ocultas do destino. com certeza. provavelmente). Olhe, meu velho, é que eu não tô podendo pegar passageiro não, que meu carro tá meio fuleiro, mas você tá... tá difícil aí, né? entra aí, rei, eu te dou uma carona. E me deu um carona até o ponto de táxi mais próximo. Chamou o outro taxista. Vem trabalhar, rapaz! leva o bróder aqui!

Benevolência súbita sem motivo de um professor para com um aluno vagal. Isso não acontece.

Carona espontânea de um taxista que você não conhece. Isso não acontece.

Ah, e ACM morreu. Mas isso não tem a ver comigo. Foi só uma coisa que aconteceu hoje, tem uns minutos.
 
19.6.07
  encontros
Detesto abordagens no meio da rua. Essa foi especial.

Fim de noite com os amigos, estamos em três, quase indo pra casa, um sujeito se aproxima. Lá vem o barril, penso.

"Oi, gente, eu não tenho dinheiro, será que vocês podem me ajudar? Vocês têm uma camisinha aí?"

Claro. Tá na mão. Toma aí.

"Ai, que luxo, obrigado!"

Fim.
 
18.6.07
  alpha
Estive em alpha por dias.

Acabou de passar. Voltei. Aterrissei. Agora.

Não foi bom.                        (aterrissar)

Tenho que tomar umas decisões.





Saco.
 
12.6.07
  universitários
"você responde umas perguntas pra mim? é rapidinho. é porque eu tô fazendo um trabalho da faculdade sobre o Teatro de vocês. É que eu tenho que entregar amanhã, aí tô te mandando um questionário por e-mail pra você aplicar só em uns 5 funcionários..."

Respondi que o teatro estava em crise financeira profunda. Fechando as portas. Que eu tinha realmente muito o que fazer. Compreenda, minha querida. E vá à porra.

5 minutos depois (juro pela minha cópia do álbum branco) chega um grupo de estudantes da Católica (sem aviso prévio) querendo conversar pra um trabalho de Comunicação Social ou sei lá o quê. Os universitários amam o Vila. Acham o lugar o máximo pra trabalhos. Não vão ver os espetáculos. Vai entender.

E é sempre, sempre pra entregar amanhã. Isso gasta a minha compaixão, esmaga a minha boa vontade. Vou me tornando um ser humano ruim.

Malditos universitários.
 
8.6.07
  fama // correspondência
texto sem edição

de stella voutta
para joão meirelles
assunto: cüg - Über Glam

amor,

hehehehe, você nao vai acreditar nisso. adorei a cancao (caramba, o alemao de bitola é bom, tem pouco sotaque mesmo), é muito, muito bom. ontem, mostrei pra uns amigos que estavam aqui e eles PIRARAM! adoram a cancao. pois é, um deles é um músico um pouquinho conhecido nessa regiao da Alemanha e ele falou que ele queria muito mostrar a cancao pra alguns amigos dele.
especialmente pra um q é DJ num club bem grande em nuremberg (uma cidade grande no sul da alemanha) pra ele tocar na próxima sessao dele e ver se as pessoas gostam. e tá fazendo uma compliacao (????? essa palavra existe... um típo de cd) de vários músicos agora e perguntou se for possível talvez botar a cancao lá. hehehehehe, q maluquice. pois é, falei q antes de tudo, tenho q perguntar vocês se podemos distribuir a cancao um pouquinho... podemos? se acontece alguma coisa com a cd, vou falar com vocês de novo e dizer quais seriam as condicoes. e ahí, o q você acha? quer ficar famosos na alemanha? hehehehe. nesse momento, nao posso prometer nada porque até agora é tudo ainda bem hipotético, mas quem sabe, talvez resulta alguma coisa disso!

o q você acha?

um beijao, adoro, adoro, adoro você,
Stella
---
Quero, quero ser ouvido na Alemanha.
Go get'em boys. Go now.
 
3.6.07
  huguinho, luisinho e outros sobrinhos do pato donald
Graças a Hugo Chávez, todo dia ouço falar sobre o papel da imprensa, da televisão, sobre o que pode e o que não pode, o que é certo, o que é errado, etc.

Talvez esteja só chegando a hora de pararmos de fingir que a questão da informação está na ilha da fantasia.

No seriado C.S.I. - quem assiste sabe - uma frase se repete na boca dos peritos gatinhos: "Vamos precisar do DNA de todo mundo". Em Um Drink no Inferno, o personagem de Tarantino leva um tiro na mão. Fica o buraco, ele olha através da mão e fecha o buraco com silver tape. Em Pulp Fiction, uma injeção de adrenalina no coração salva a vida de Mia Wallace e deixa a moça com piercings com um tesão danado.

Ficção é ficção e as pessoas sabem. Eu sei que Tarantino é um ator, e que a mão dele não levou um tiro. Eu sei que as coisas provavelmente não acontecem como em C.S.I. Eu sei que uma injeção de adrenalina no coração é uma cena forte e não um procedimento médico aceitável. Pausa. Eu sei disso? Melhor: eu posso fechar meus ferimentos com silver tape? Eu posso pedir o DNA de todo mundo?

Alguns rapazes fecharam seus ferimentos com silver tape. Pelo menos um júri foi escolhido nos Estados Unidos usando o critério "quem assiste C.S.I.?". Assim, mesmo que testes de DNA em massa sejam caríssimos, certamente ilegais, e demorados, menos do que isso não pareceu aceitável para aquelas pessoas. Por sorte, injeções de adrenalina não são tão fáceis de achar. Os novatos do FBI querem ser Jack Bauer. Querem bater. Querem torturar e conseguir as coisas na marra. Os chefes estão indo a loucura com isso.

Pensamos muito em o que pode e deve ser dito para as nossas crianças, fazemos polêmica com Teletubbies (aliás, eles estão de volta) e não pensamos muito no que dizemos a nossos adultos. Os telejornais e suas descrições detalhadas ensinam delitos variados. É um telecurso 2000 de como roubar, onde roubar, como sequestrar, está tudo lá. "Esse bairro está sem polícia, seu Varela!", "o bandido (a palavra da moda, adoro ela, é tão Maurício de Souza) usou um alicate comum para danificar a cerca elétrica do condomínio", etc. Quem mostra o vídeo de Cicarelli se agarrando no mar, tem que pagar. Quem ensina a desarmar cerca elétrica com um alicate não tem responsabilidade.

Uma rede de televisão é uma fábrica de realidade. Televisão é uma fábrica de realidade. A revista Veja é uma fábrica de realidade. Informação é poder. É simples assim.

Alguém perguntará: "mas a culpa é da TV/seriado/jornal/revista semanal/panfleto ou da pessoa que lê/vê?" (Mainardi teria uma boa resposta). O problema está no Jornal Nacional ou no Homer Simpson? Acho que não interessa. Acho que interessa que Homer está lá, com suas rosquinhas e Bonner sabe disso. Se ele repetir bastante que Moralez é o inimigo, Moralez será mais inimigo amanhã do que era ontem.

Liberdade de expressão acima de tudo! É um absurdo o que esse ditadorzinho venezuelano está fazendo! Ele não pode fazer isso! (Mainardi, apareça).

O discurso da liberdade de expressão não vale. É mentira. Os heróis da liberdade, os americanos, não são livres, não usem eles como exemplo. Se fossem livres para dizerem o que quisessem não diriam sempre a mesma coisa. Liberdade de expressão, na prática, não existe. E você sabe disso. Eu sei disso. Os limites são bem demarcados e a corrente é curta. A gente pode proibir idéias nazistas (nossos amigos nazistas foram proibidos de fundar o próprio partido mesmo depois de prometerem que não iam perseguir ninguém, eles só não querem se misturar. O Brasil é um lugar terrível) mas não podemos parar os capitalistas. Decidimos que nazis são maus. Sam é bom.

Nunca assisti a RCTV (quem sabe no youtube, um dia desses). Sei porque a renovação da concessão foi negada. Acho autoritário. Sei que é uma ação política. É legal. Só não vale fingir que alguém é livre, e que Chávez está matando a liberdade. Não está. Está atacando o inimigo. Fechando a agência de propaganda deles. Se somos pelos capitalistas e queremos invadir a Venezuela porque não gostamos desses malditos comunistas, mãos à obra. Mas achar que salvariam-se venezuelanos...

O discurso de que os direitos fundamentais dos seres humanos estão feridos, é irreal.
 
1.6.07
  yaccs!
O YACCS é um sistema de comentários dos melhores que existe.

É muito antigo, também. Nos primórdios da era blogger, quando se blogava com máquinas de datilografar e os comentários eram feitos com post-its, o YACCS foi pioneiro ao lançar os post-its personalizáveis e com estatísticas.

Temos uma história juntos. Anos.

No momento, no entanto, este excelentíssimo e magnífico sistema está tiltado. Malucão. Engaveta comentários novos, erra o número de comentários de uma caixa, coisas assim. Talvez a idade. Talvez reformas.

Talvez a inevitável obliteração do que é antigo. Adorávamos, eu e alguns de vocês, o Netscape Navigator do qual não se ouve mais falar, a não ser nas aulas de história recente da web no Brasil.

Envie esse texto para todos os seus amigos do Orkut para que a caixa de comentários volte a funcionar bem, ou os seus sisos nascerão novamente. Quem nasceu sem vai ficar com, quem arrancou terá novos, quem já tem terá 8. É sério. Eu repassei e funcionou.
 
blog. só um blog.

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