formigas da extrema esquerda
São Lázaro passa por obras. As formigas se revoltam. Entre outros acontecimentos.
Estou sem entender a mim mesmo. Não sei porque não tenho contado histórias fantásticas sobre o fabuloso mundo de São Lázaro aqui. Elas continuam acontecendo.
Exemplo: Temos um novo falso escândalo internacional - comparado inclusive ao novo falso escândalo internacional da UnB - em plena FFCH. O que tem na capital, nós na província copiamos com nosso próprio sotaque. Diz-se aos berros pelos corredores e tem até faixa expondo que um machista racista agrediu violentamente - ainda que verbalmente - uma negra. Só porque ela é negra. E mulher. E baixinha. Esse é o fato político do semestre. Até canto guerreiro quilombola tivemos. Querem a cabeça do branco (que não conheço, e nem branco de verdade deve ser - posto que a sua cor, em São Lázaro, depende do contexto e do seu salário). O que aconteceu foi que a menina, segundo relato feito por ela mesma, foi arrogante e grosseira com o rapaz. Em resposta, ele mandou ela tomar no cu. Fim da história. Juro. Foi só isso. Por um acaso qualquer do destino, o assunto da discussão era se o movimento negro era ativo ou não. Logo, o rapaz é machista e deve ser expulso do curso. Quem não concorda com a vítima dessa agressão hedionda nunca dantes vista em solo brasileiro, é automaticamente racista e machista. No mínimo, omisso - o que já coloca o sujeito sob suspeita. Eu mesmo, sou suspeito. Nunca soube que qualquer movimento negro tinha orientação McCartista, mas fiquei com essa impressão. E só me refiro ao movimento negro, e não às feministas, porque sei que esse negócio de dizer que teve machismo, nem mesmo os inquisidores levam a sério de verdade. É mais uma cereja no bolo. Já que vai pôr o cara na fogueira, façamos dele um criminoso malvado de verdade. Quando ele estiver queimando vão provavelmente acusá-lo de heterossexual.
Mas como dizia, São Lázaro passa por obras. A construção de um novo edifício e a reforma do banheiro. A reforma do banheiro é a principal peça de campanha de todos os 5 D.As daquele campus. Com o banheiro masculino reformado, as múltiplas instâncias do movimento estudantil vão ter que se reunir em sessão extraordinária para decidir do que reclamar nos anos seguintes. Problemão.
A outra obra, precisa de escavações e grande movimentação de terra para lá e para cá. Isso deixou algumas milhares de famílias de formigas sem lar. Formigueiros inteiros demolidos, e agora as pequeninas precisam transferir-se para um neolocal. A intervenção agressiva iniciou-se sem consulta, sem discussão com a comunidade. A coisa toda feita de forma arbitrária gerou o movimento das Formigas Sem Teto da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia. O FSTFFCHUFBA. Exigem a interrupção imediata das construções. As formigas procuram aliados e já marcaram uma reunião com lideranças do Movimento Estudantil local. "Ouvimos dizer que alguns grupos defendem a qualquer custo qualquer minoria. Vamos cobrar o compromisso", declara uma das formigas-rainhas desabrigadas.
A primeira ação do FSTFFCHUFBA foi uma passeata hoje pela manhã no corredor leste do pátio Raul Seixas que mobilizou cerca de catorze mil formigas das quais, mais de quatro mil foram sumariamente pisoteadas. Os gritos das revoltadas não atingiu uma frequência audível pelo ouvido humano. Alguns pés humanos, escolhidos pelo estrito senso de oportunidade, foram furiosamente atacados. Não há números precisos sobre os humanos feridos. Apesar das demandas não ouvidas e das numerosas baixas, as lideranças consideram que o primeiro ato do movimento foi vitorioso e afirmam: a luta continua.
eterno retorno
Hoje vi punks na rua. Não eram meninos criados no Ovomaltine fantasiados de "BAD". Eram punks fantasiados de "BAD". Um tinha uma brilhante barra de alumínio debaixo do grosso casaco de couro. Punk tropical, mas ainda a caráter. Agitados e nômades. Discutindo. Punks mesmo. Calça quadriculada suja. Mulherzinha punk. Guri punk. Um bando. Bandinho. Será que um novo 'point' é por aqui pelas áreas? Punks. Suando, por causa das roupas punks e sofrendo sem reclamar. Como punks.
A parte boa do aquecimento global é que os punks vão acabar. Ou terão de se adaptar, logo, não serão punks.
Puta que pariu, punks.
efeito sanfona
*** de acordo com o brogger, este é o post 1.200 do putamadre. hmmm...Atualmente, com exceção dos domingos, acordo pesando uns cento e cinquenta quilos. As vezes cento e oitenta. Meu colchão, embora muito bom e cheio de funções anti-alérgicas, não informa com voz robótica (e ao mesmo tempo sexy) quanto peso há em cima dele. Também não tem um serviço despertador próprio. Olha só: os colchões do futuro terão bateria de lítio. Me refiro aos dobráveis, de viagem. Os de casa serão ligados na tomada. É provavelmente mais prático. Terão compartimentos "secretos" de esconder dinheiro e um relatório sobre seus movimentos e barulhos noturnos. Você terá acesso a essa informação pela saída USB. É encaixar o pen-drive, esperar syncar e jogar no PC. Depois virão os colchões wireless.
A questão é que acordo com mais do dobro do meu peso. O que não é tão estranho, porque na hora de dormir também estou co pouco mais de cento e vinte quilos. Perceba que, relativamente, engordo pouco à noite.
Sair da cama é difícil, chegar debaixo do chuveiro, uma luta. Lá, o primeiro jato de água é sempre frio, independente da temperatura escolhida. Depois a Lorenzetti se ajeita. No banho, vão pelo ralo de dez a quinze quilogramas. Chego à mesa sem arrastar os pés. As coxas, quase sempre, já não arrastam mais. O peso permanece estável até o ponto de ônibus. Vivo pesadamente todas as manhãs. Exceto os domingos.
O café ruim da faculdade ajuda mas não resolve. É temporário. Efeito sanfona. Vai e volta. Passada a manhã, vem o almoço apressado pra chegar o quanto antes no trabalho. Enquanto as pessoas comem pensando em quanto engordam, a cada garfada penso o quanto emagreço. Porque depois do almoço vem aquele cafezinho que ajuda a maresia pós ingestão passar.
Então me reconheço.
Só aí a balança acerta. Ela diz setenta e eu me sinto setenta.
Fica assim até o ensaio começar. Quando termina, 22h, o corpo se dá conta que está pra cima e pra baixo desde as 6h30, geralmente. Fim de ensaio é um bom momento pra voltar a ganhar... densidade. Chego em casa me arrastando. O banho ajuda mas não resolve. É temporário. Efeito sanfona. Vai e volta. O joelho reclama. Diz que há umas horas atrás, subir escada era mais fácil. O sono ainda demora de vir. Aos cento e vinte, com sono e preguiça, dá menos vontade de se mexer. Aí eu durmo e de noite vou engordando de novo. Exceto aos domingos.
minha história do café
Tomei café pela primeira vez ainda bem guri. Menino tem fase de querer ser adulto logo, e fazer as coisas que eles fazem e os guris, não. A minha primeira caminhada rumo a vida adulta foi tomar café com leite no café da manhã ao invés de Nescau. Veja que nesse tempo ainda existia café da manhã.
Gostava, mas só se botasse muito, muito açúcar. E com leite. Depois voltei a gostar de ser um moleque e o café desapareceu.
Ressurgiu com qualquer significância quando comecei a minha vida de trabalhador autônomo. Isso foi lá em 1998. As propriedades energéticas e exterminadoras de sono do café começaram a ser abundantemente exploradas. Consumi café como droga. Em busca de um efeito bastante específico, sempre que necessário. Natural que eu tenha me viciado.
Viciado e munido de uma cafeteira italiana, veio a fase
junkie. Acredito que por volta de 2001 era comum me ver trabalhando em qualquer coisa e batendo mãos e pés, levantando e sentando e indo pra janela pra gritar "A SBÓRNIA ERA LIGADA AO CONTINENTE POR UM ISTMO!". Lembro do dia em que estava num prédio da Av. Tancredo Neves trabalhando com uns engravatados. Tiramos um cochilo no escritório depois que o café acabou e descemos 6h da manhã para a loja de conveniência do posto de gasolina pra pedir um expresso grande pra cada. Tivemos de abrir caminho no meio de uma dezena de engravatados que faziam a mesma coisa.
Não me lembro quando, nem onde, mas suponho que em 2003, conheci o bom expresso. Antes só tinha me esbarrado aqui ali com os expressos ruins. Me perguntava porque pagavam tão caro por aquilo. Foi um momento marcante. Antes dele, os sabores de café variavam entre mais-ou-menos, ruim, e muito ruim. O expresso era bom. E aconteceu quase ao mesmo tempo de outro momento fundamental: a intervenção de Márcio André Pimentel. Este senhor um dia me viu comer torta de chocolate com café, no teatro. Observou que eu coloquei duas colheres de açúcar no meu café. Então ele sabiamente disse: "coma um pedaço da torta, espalhe bem pela boca antes de engolir, e depois tome o café com menos açúcar".
Experimentei no dia seguinte e o truque funciona. Aí foi um rápido caminho ladeira abaixo. Logo, passei a tomar café sem açúcar com ou sem doce. Passei a distinguir e compreender melhor os sabores e suas sutilezas. Desbravei os diversos expressos que encontrei. Passei a ter preferidos!
Hoje gasto dinheiro com café. E em recente viagem para uma cidade distante, experimentei o café com creme. Hmm... Café com creme! Mas ainda não achei nada tão bom quanto aquele aqui nesta cidade.
parabéns
No dia 13 de abril de 2004, nasceu A Outra Companhia de Teatro. Quem lê esse blog, sabe do que eu tô falando. E se a gente parar pra prestar atenção, veremos que sexta-feira o grupo fez 3 anos.
Três anos, quatro espetáculos, um prêmio, dois festivais, três patrocínios conseguidos com muita noite virada, bate-boca e corre-corre.
Parabéns, companhia, você tá crescendo que dá na vista. Tenho um orgulho danado.
braskem 2
Os paparazzi não foram. Chato.
Esse foi um Braskem de novas estrelas.
A cerimônia durou duas horas e meia. Eu fico aqui imaginando, porque isso acontece? Acho que faltou dinheiro pro coquetel. Aí deixaram pra acabar bem tarde, pras pessoas comerem pouco e irem pra casa porque tá muito tarde. Duas horas e meia é um mal sinal. Muitas coisas legais, muitas coisas chatas, e quase tudo muito longo. O resultado da equação é: chato.
Então vamos falar do que foi legal:
Issucatassom fez umas brincadeiras manjadas, mas deu pra divertir. Podia ser mais curto.
Grupo Pim e Circo Picolino fizeram uma boa apresentação. As crianças quebrando tudo na percussão, cantando e dançando lindinhos pra caralho e as meninas do circo fazendo pano na cabeça da molecada. Sucesso. Podia ser mais curto.
Dimenti e Retrofoguetes foram decente. Podia estar tendo até agora. Retrofoguetes jogou sua excelente trilha sonora pro Dimenti brincar, e eles brincaram muito bem, com piadas dementes, e sustentando até o fim as loucuras. Massa. O resto foi chato. Uma bagunça danada.
Melhor direção: Juliana Ferrari (Navalha na Carne)Não vi esse espetáculo. Torcia por Jacyan Castilho, de Canteiros de Rosa. Marcio também tava indicado.
Melhor autora: Luciana Comin (Ora, Bolas!)Não vi. Mas não gostei do texto de Comida de Nzinga, nem de Pague pra Ver. O quarto indicado era de Luciana Comin de novo: Pra Não Esquecer de Mim. Também não vi.
Revelação: Marcelo Souza, diretor de GuildaExcelente surpresa. Marcelo é um artista da porra, Luz! e Guilda são espetáculos excelentes, originalíssimos, coisa de gourmet. Pra lamber os dedos no final. Muito merecido. Ele foi caracterizado de Guilda pra cerimônia com o elenco inteiro, posando e sacaneando durante a festa inteira. Quando ganhou, subiu no palco, pegou o Braskem com mil poses, fechando, baixou a sunga, passou o troféu no cu e voltou pra escada. Um escândalo.
Categoria especial: Miguel Carvalho, pelo figurino de A Comida de NzingaO figurino do espetáculo é, de fato, uma delícia.
Ator: Jhoilson de Oliveira (Navalha na Carne)Não vi. Minha torcida era declaradamente para Igor Epifânio, que tem talento pra uns três Braskem.
Atriz: Fernanda Paquelet (Orinoco)Não vi, porque Orinoco ficou muito pouco tempo em cartaz e batia com meu horário de ensaio. Adoro Fernanda, comemorei com ela. Claro que estava torcendo também pra minha colega Isabela Silveira, mas fiquei feliz por Paquelet também.
Ator coadjuvante: Evérton PaimTorcia por Leno Sacramento, que é um grande talento e pouca gente rasga seda para o rapaz. Evérton Paim, no entanto, não ganhou de graça. Fez um bom trabalho, como aliás, Barrela é tecnicamente um bom trabalho - com algumas coisas que eu não gosto, (o texto é ruim - ou eu que não gosto de Plínio Marcos) como eu já escrevi. Soube aliás, por um conhecido mútuo, que eles ficaram chateados com o comentário. Uma pena. De qualquer forma, parabéns a Evérton.
Atriz coadjuvante: Jussara MathiasVirgínia Marinho estava bem em Pague Pra Ver, mas eu acharia estranho se ela ganhasse. Fernanda Beling, das indicadas, foi a que eu vi. Eu gosto do trabalho de Fernanda. Não vi Jussara em A Casa dos Espectros.
Espetáculo infanto-juvenil: Ora Bolas!O outro concorrente era Diferentes, Iguais, da minha corporação, que eu vi, e acho que vi num dia ruim, porque achei muito estranho. Ora Bolas!, não vi.
Melhor Espetáculo Adulto: Sonho de uma noite de verãoSonho é um negócio do outro mundo de grande, de bem feito, de tudo. Ninguém pode dizer que não é merecido. Dos quatro, não vi Navalha na Carne. Indicados ainda, Mestre Haroldo e Barrela. Mestre Haroldo é bem bom. Podia ter ganhado. Sonho merece.
JÚRI POPULAR
Não acredito nesse júri popular. Não é de hoje. Nunca acreditei. É um negócio maluco. Quem tem mais parente e faz a melhor campanha, ganha. Não tem nenhuma, nenhuma, nenhuma conexão com o espetáculo. Por mim terminava.
Espetáculo adulto: A ViradaA pose dos meninos e o discurso de Gabriel Camões, mostra que o teatro baiano vive uma realidade, existe de uma forma, trabalha de um jeito e eles existem em um universo paralelo. Não acho isso nem bom nem ruim, mas foi a coisa mais fora do tom da noite. A coisa toda pareceu deslocada. Mais deslocados que os gaúchos que subiram no palco no final. Agradeceram aos apoiadores do espetáculo. Não se agradece aos apoiadores do espetáculo, um por um, nesses prêmios. Pega mal. Fica a dica.
Espetáculo infanto-juvenil: A pedra do Meio-diaEsses deram um jeito de ganhar, fizeram uma boa campanha, porque estavam afim de fazer um discurso. Ganham e foram ao discurso. Conteúdo: bom, duração: grande demais, forma: chaaaato. Reclama de infanto-juvenil só ter dois indicados a melhor espetáculo, o que não faz muito sentido mesmo, e dá um berro pela produção infanto-juvenil que não pode e não deve ser negligenciada. Concordo. Mas podia ser masi objetivo e não precisava choramingar tanto.
Agora que Marcio ganhou, deu a deixa a JC, tô no aguardo.
O governo, como sempre, claro, levou algumas cutucadas. No fim, no discurso, o secretário se defendeu. Acho que ele poderia ter sido menos defensivo, seria melhor pra ele e para as perspectivas de mudança berradas no TCA. Mas foi um bom discurso. Coerente. Tenso.
Os gaúchos supracitados, foram os ganhadores do Braskem do Rio Grande do Sul, que estão em cartaz em Camaçari, apresentando Sonho de uma noite de verão, e agora o Bando vai a Porto Alegre apresentar o Sonho com patrocínio da Braskem. Sucesso.
Muita gente que eu não conhecia ganhando prêmio, mas eu também não conheço taaanta gente assim. Bons discursos, a tônica, a mesma: "não tenho apoio, não tenho patrocínio, e aí? Vai ser pra sempre assim?". A grande diferença é que os não-apoiados estão se virando melhor. Fazendo trabalhos melhores, e ganhando prêmios. Espero que isso seja sinal de que em 2007 as produções sejam abundantes e boas.
O coquetel foi sucesso. Boas conversas, boas fofocas. Risadas. Consegui ir pra aula hoje, mas foi milagre.
braskem
Hoje é dia de Prêmio Braskem de Teatro.
Os papparazzi do iBahia estão a postos na porta do estacionamento do Castro Alves para fazer a cobertura dos melhores vestidos e das chegadas mais deslumbrantes ao tapete vermelho da Caderno 2 Produções.
Quem comanda a festa dessa vez, é Fernando Guerreiro, que segundo soube, promove encontros variados, como Grupo Dimenti + Retrofoguetes e Circo Picolino + Grupo Pim.
dimenti - grupo de artes cênicas (ninguém sabe se é teatro, dança, performance, culinária...) com uma produção espetacularmente competente e materias gráficos invejáveis. Resultados cênicos louquíssimos e estéticamente refinados.
retrofoguetes - banda surf music instrumental. A melhor do Brasil.
circo picolino - circo feito por jovens, coordenado por jovens e um velho alto astral demais que é Anselmo. Toda vez que eu vou ao circo eles inventaram uma parafernália acrobática de vida ou morte nova. Atenção.
grupo pim - meninos de 6 a 8 anos, ou quase isso, que dançam, tocam, dançam e derretem corações. Crianças ultra-disciplinadas, treinadas com chicote.
Como podem ver, só gente competente. Dançarinos que falam, roqueiros mudos, jovens suicidas e crianças treinadas no chicote. E isso porque eu soube desses quatro, mas tem muito mais gente envolvida. Veremos.
Tenho para quem torcer na entrega dos prêmios. Torcerei. Mas a minha maior esperança é que Marcio ganhe algum prêmio, para eu poder ler as besteiras que Juliana Cunha vai escrever sobre teatro, sobre o prêmio, sobre Marcio e alguma teoria da conspiração obscura sobre a qual a imprensa se recusa a falar porque conspira com o governo.
Depois eu conto como foi.
shopping & fucking
A concepção me incomodou muito. E incomoda mais, porque tecnicamente, é tudo muito bom.
O espetáculo tem um grande problema: os atores deveriam falar em inglês. Também ajudaria bastante se o teatro fosse em Londres ou Nova Iorque.
Shopping & Fucking, de Mark Ravenhill, tradução de Laerte Mello, produção de Mário Dias e Direção de Fernando Guerreiro está em cartaz no Teatro Molière, Aliança Francesa - infelizmente localizado em Salvador, em plena ladeira da Barra - e é um bom espetáculo. Eu aplaudi de pé. E sinceramente.
O texto é uma das estrelas da recente dramaturgia inglesa, encenado pela primeira vez em 1996, e agregado ao estilo
In-Yer-Face Theatre, algo como "Teatro direto na sua cara". É uma história de drogados com problemas, algo como Trainspotting, mas a história interessa menos. O texto é um discurso de choque. As cenas, os personagens e as situações é que contam. A história é só uma história.
Os atores estão muito bem. Celso Jr., nervoso (talvez só nesse dia) mas bem, Rodrigo Frota e Jussilene Santana formam uma excelente dupla, Edvard Passos e Emiliano D'Ávila também. A luz cumpre bastante bem sua função, sem exageros. A trilha sonora poderia ser melhor. O cenário é inacreditavelmente bom, coisa de mágico, posto que não se lê "patrocínio" no programa.
Dá gosto de ver um trabalho tão bem feito. O texto é bom, a equipe é boa, o diretor é competente, o cenário é mágica. Porque então a sensação de que algo está errado, do começo ao fim?
O último espetáculo de Guerreiro que eu vi foi Um Bonde Chamado Desejo, também no Teatro Molière. Saí com a impressão de ter visto um filme dublado. O mesmo dessa vez. Os personagens no texto original são ingleses, e ao que parece, a idéia da direção foi mantê-los ingleses, lá de Londres, ou Manchester, ou qualquer outro lugar. O resultado é que apesar de tudo muito amarrado, você não acredita nesses personagens, não viaja com eles. É tudo coerente e não é. Difícil acreditar nesses brasileiros, baianos, cearenses, vivendo ingleses. Brancos, loiros, com camisa do Lakers, mascando chiclete e tudo, mas não são ingleses. Não são gringos. E aí alguma coisa fica pela metade. Nenhum deles é o Ewan McGregor e não existe correspondente em português para o sotaque inglês. Adotar o sotaque do Jornal Nacional não ajuda. São gringos que não são gringos. Ou não o suficiente. Fica falso. Uma tradução de voz sem tradução de corpo e a atmosfera fica estranha. E você escuta a mensagem mas ela não te pega, já que em nenhum momento você conseguiu embarcar com os personagens porque tem alguma coisa de alienígena neles.
São opções que me incomodam. Mas claramente opções e não erros. Além disso, cenas um pouco mais longas do que precisavam ser, fazem com que você leve um tempo pra pegar o ritmo e o tempo do espetáculo. Nada grave. As cenas de sexo acontecem no limite do "bom gosto", mas não decepcionam. Entre os trunfos, estão as brigas, os ataques verbais, as frustrações, os combates em cena dos personagens que geram momentos espetaculares e mostram o talento do autor, a competência do diretor e o brilhantismo do elenco.
Vale ver. No fim do espetáculo, sentia incômodo, por ser tudo muito bom MAS a concepção ser esquisita. Aplaudi de pé, pois vi um trabalho de qualidade. Quem encara o público no fim do espetáculo é o elenco e não o diretor. Aplausos de pé, porque o trabalho deles merece.
festival de teatro de curitiba
A improvável seleção para a mostra oficial se transformou numa verídica viagem de ida e volta a Curitiba, com pouquíssimos problemas de percurso. Parece que estamos aprendendo a fazer esse negócio que é produção de teatro. Nesse projeto, cuidei de pouco, quase nada de produção, os 'congratulations' ficam especialmente para a Sra. Isabela Silveira, Srta. Stella Voutta e o Sr. Luiz Antônio Jr., meus lindos, que organizaram maravilhosamente bem tudo.
Avião saindo quase na hora, chegando quase na hora. O Contêiner de lá era diferente, pesadão, tinha uma estrutura alienígena no meio do palco pra içar o troço. O "teatro" foi um estacionamento insuficientemente varrido e arquibancadas de circo. Minha primeira impressão é de que daria tudo errado, mas deu bastante certo.
A imprensa curitibana levantou nossa bola antes de estrear. Saímos com duas fotos na Gazeta do Povo, saímos no jornal local da Globo. Depois os ecos foram poucos. O público do primeiro dia pareceu um pouco atônito, mas os dois públicos seguintes aplaudiram de pé entusiasmado. Algumas visitas de camarim, abraços alegres do diretor do festival e outros membros da equipe, uma crítica no Curitiba Interativa, um site local e uma cutucada de um jornalista da Folha de São Paulo que não gostou do espetáculo mas resolveu não se dar ao trabalho de dizer o porquê.
Só tive chance de ver dois espetáculos. Aproveitei o tempo que tinha pra relaxar e relaxei. Poderia ter visto muitos outros, mas queria realmente descansar. Tive férias fajutas que não foram descanso algum. Então descansei. Assisti a "Eu Odeio Kombi" e "Pátria Armada". Ambos paulistas e com cara de Globo. Eu Odeio Kombi é ruim. Um amontoado de piadas sem dramaturgia. Televisão no palco, só que com palavrões liberados. Ouvi falar muito bem do Farândola Troupe, e apesar do título demolidor de expectativas, guardei alguma esperança para o espetáculo. "Pátria Armada" é aquilo de pior que São Paulo pode oferecer: teatro industrial, com interpretação pasteurizada e muito dinheiro desperdiçado numa montagem sem poesia, previsível e sem graça, longuíssima e que ainda se proclama "teatro documentário", quando é a dramatização de fatos supostamente reais com algumas inserções de vídeos e datas. Se isso é documentário, Cidade de Deus também é.
No mais, Curitiba é linda e os locais não impressionam pela simpatia, correspondendo à fama. Ficamos felizes assim. Agora é começar um novo espetáculo, iniciar o intercâmbio com o nordeste inteiro, preparar o segundo África/Cinema e organizar as viagens pro segundo semestre. Espero sobreviver.
Tenho ainda que agradecer a Patrícia, nossa
host em Curitiba, que foi muito mais legal com a gente do que estava sendo paga para ser. Foi ótima. Suzana, a produtora local e os Marcelos motoristas também merecem os agradecimentos e parabéns pelo bom trabalho.
A viagem foi assim.