são lázaro
Hoje um lazarento foi para o pátio com um santinho de ACM candidato a governador.
Idade: 16 anos. Do sujeito? Não, do papel. É da campanha de ACM para governador de 1990. No verso da fotografia (fundo vermelho, sorriso aterrorizante), a letra do jingle maravilhoso que ele usou naquela campanha.
O ímpeto, ao ver a letra do jingle inesquecível, foi de pegar o caderno e copiar palavra por palavra. Acabei não o fazendo por motivo nenhum. Depois acreditei que acharia no Google. Não achei. Então vai como eu lembro, com trechos em branco, onde a memória falha:
Ponha um cravo na lapela,
Um sorriso na janela,
ACM avisou
Que vai voltar
Na sua cabeça branca,
Tem a prata do saber,
_______________
__________ você,
__________ Bahia,
A tristeza vai ter fim,
Com a proteção
Do Senhor do Bonfim,
A-ACM meu amor,
(quem gosta da Bahia quer)
A-ACM meu amorO jingle é muito bom. Não rima verbo com verbo, não é completamente quadrado e ao mesmo tempo não sai da cabeça. Especula-se que o autor secreto seja Chico Buarque. As investigações apontam que isso explicaria o dinheiro de origem desconhecida que foi usado pelo compositor na compra de dicionários de rima, e um curso de sex-appeal por correspondência oferecido pelo Instituto Universal Brasileiro. Fontes seguras afirmam que já em 1989 Chico planejava, na meia idade, estarrar.
lambe-lambe
Minha câmera fotográfica andou teimosa sem querer funcionar.
Quando voltou, ficou meio esquecida ainda, pela quebra do hábito.
Hoje ela voltou à ativa. Meu pai precisava de uma fotografia profissional, de busto. Queriam cobrar a ele 35 reais. A cobrança motivou o desenterro do tripé e mais uma vez, fui dublê de profissional.
A foto ficou ótima e foi minha estréia no ramo do lambe-lambe.
brasil
Geralmente não posto notícias de outros lugares. O espaço é mais frequentemente usado para comentar coisas que saíram de outros lugares, mas isso TEM de ser difundido.
Falamos dos americanos, dos ingleses, dos franceses, mas a verdade é que os imbecis e os fascistas estão em todo lugar.
Aposentada que baleou mendigo é condecorada no Rio
Agencia Estado
A aposentada Maria Dora dos Santos Arbex, de 67 anos, que, armada ilegalmente, baleou um mendigo que tentou assaltá-la, foi condecorada hoje com a Medalha Pedro Ernesto, a mais alta condecoração da capital fluminense. Na solenidade, ela defendeu teorias polêmicas: pediu leis que proíbam moradores de rua de terem filhos e até que sejam jogados em alto-mar. Maria Dora conclamou as "mulheres cariocas" a fazerem um mutirão para expulsar mendigos das ruas. "Não tem albergue, não quer ficar em albergue, fica no meio do mar. Bota num navio e descarrega longe".
A aposentada recebeu apoio de policiais, promotores e de militares durante a sessão, enquanto o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Octavio Gomes, classificou de insensata e irresponsável a decisão dos vereadores de condecorarem Maria Dora. Ela ofereceu a medalha ao "povo que vive oprimido". "Não tenha medo. Marginal não é ninguém. Não se doa, só magoa", afirmou.
Durante discurso, a aposentada disse que não se arrepende de ter atirado no mendigo, que a atacou com uma faca e ficou ferido na mão depois da reação da idosa. "Se ele insistisse teria matado ele (sic) sim, para salvar minha vida. Mas não aconselho ninguém a reagir se não tiver calma, não souber manejar uma arma e não souber lidar com psicopata", disse ela, que foi enfermeira especializada no setor de psiquiatria.
Técnica israelita
Ela disse que não deixará de andar nas ruas e incentivou as mulheres da sua idade a não se intimidarem. "Se não pode usar arma, faz krav magá", disse, referindo-se à técnica israelita de defesa pessoal. A aposentada pediu prisão para moradoras de rua que tenham filhos sem condições de criá-los e criticou os que defendem os direitos de ir e vir dos mendigos. "Se o direito de ir e vir é tão assegurado, eu vou morar no Copacabana Palace". Ao fim do longo discurso, até os filhos de Maria Dora, Kátia e Márcio, riam das frases de efeito da mãe. Kátia, que disse estar orgulhosa da coragem de sua mãe, fazia sinais com as mãos para que a aposentada encerrasse sua fala.
A promotora Dora Beatriz Wilson da Costa disse que a aposentada não deve temer o desfecho do inquérito que apura o crime de porte ilegal de arma. "Ela não deve temer porque se defendeu em cima de uma falha do Estado. O final será feliz", afirmou. O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), pai do vereador Carlos Bolsonaro, autor da proposta da condecoração, disse que o ato de Maria Dora é um exemplo à sociedade. "Mostra que o Estatuto do Desarmamento está errado".
Coordenador para o Controle de Armas do Movimento Viva Rio, Antônio Rangel, lembrou que a primeira queda no número de homicídios ocorreu após a entrada em vigor do estatuto. "Foi a primeira redução em 13 anos. Mais de 3.300 vidas foram salvas", afirmou. Ele disse que "é impossível não sentir simpatia por uma senhora que se defende de um assaltante por causa da falha nas políticas de segurança", mas lembrou que na maioria dos casos de reação a vítima da tentativa de assalto acaba morta.
Assassinos
"A condecoração foi uma atitude oportunista dos vereadores e estimula um comportamento temerário, empurrando cidadãos para se tornarem assassinos", afirmou. O presidente da OAB-RJ é da mesma opinião. "Essa senhora foi corajosa, mas a história poderia ter fim trágico e infeliz. Ela não tinha autorização para portar arma e de forma alguma é caso de homenagem por parte do legislativo". Gomes teme que o ato incentive outras pessoas a cometerem atos heróicos.
bahia, bahia
Esse fim de semana, tirei de férias.
Passei dois dias meio incomunicável, sem dar meu número provisório de celular pra ninguém, e só fiz descansar e fazer outras coisas divertidas e agradáveis.
No citado fim de semana, o espírito da Bahia se engrandeceu ao meu redor.
Sexta à noite, no começo do fim de semana de férias, indo para onde eu ia, no caminho, tinha um cara de bermuda, uma dessas camisas que parecem um abadá e pochete, encostado com uma mão no poste. Um andar abaixo, um guri de uns quatro anos também de frente pro poste. O pai lecionava: "...vai, tira a rola pra fora, mija aí...". Estava ali, ao meu lado, um flagrante singelo e singular da cultura baiana sendo passada de pai para filho.
Na Bahia, mijamos na rua. Qualquer lugar está sujeito a ser nosso mictório, qualquer objeto, nossa privada. Mijamos nos postes, nas rodas dos carros, nos cantinhos (sobretudo nos cantinhos), árvores, mas a rigor, em qualquer coisa, em qualquer lugar.
Minha primeira visita ao Parque da Cidade com a escola (alfabetização), deu vontade de mijar, consultei a professora que me indicou as árvores. Qualquer uma.
A Bahia é nossa. Auteticamente nossa. Puramente nossa. Nosso território. Tá toda mijada. Material de demarcação espacial diariamente renovado.
Viva a Bahia.
sangue
O
Hemoba está com um déficit de bolsas de sangue. Faltam mais de 500 bolsas de sangue no total para atingir o nível ideal.
Abaixo, tipos sanguíneos e respectivos déficits.
A+ 170
A- 25
B+ 80
B- 9
AB+ 25
AB- 3
O+ 227
O-, pelo que eu entendi, não tem nível ideal, a sede é eterna.
Ligue 0800 71 0900 para agendar sua doação.
Para doar, você deve ter mais de 50 quilos, mais de 18 anos, não pode ter tido hepatite, sua tatuagem mais recente tem de ter mais de um ano, e estar saudável, sem estar maculado por drogas diversas e evitado gordura. De preferência.
Doe sangue, largue de ser canguinha. Vou beber hoje, então vou doar semana que vem.
as palavras
Chegamos finalmente a um consenso aqui no conselho local para assuntos quaisquer reunido provisoriamente no calor do momento.
COINCIDÊNCIA é científico. Pode ser previsto. Trata de fenômenos múltiplos co-incidentes. É uma coisa banal.
CONHECIDÊNCIA é mágico. É obra do acaso. Do destino. Com significados ocultos. Dois acontecimentos que se cruzaram para mandar uma mensagem fnórdica. Um canal de comunicação do irreal para o real.
Há quem acredite e quem não acredite em CONHECIDÊNCIAS. Não há o menor sentido em desacreditar em COINCIDÊNCIAS.
Essa é que é a verdade.
c e l u l a rMeu celular caiu e espatifou-se de uma vez por todas. Digamos assim, para encurtar a história.
Desvinculei a linha do agora inútil aparelho e meu número agora jaz sem lar. Por um acaso do destino, um outro aparelho, com uma outra linha, com um outro funcionamento, estava aqui em casa aguardando na fila. Estou com ele provisoriamente. Vou tentar colocar a velha linha no novo aparelho. Não sei se é possível.
O mais importante do outro aparelho eram os telefones. Mais de 400. Perdi-os todos.
Esse aparelho é muito mais cheio de firula, coisinhos e tem até joguinho de quebra cabeça (péssimo). Entra na internet e tem outras 72 funções que não me interessam. O grande plus a mais do negócio é que tem câmera! Faço parte do silencioso exército de vigilância com uma câmera no bolso, para cima e para baixo. Nós, do exército, estamos de olho nos acontecimentos da rua. Prontos para fotografar batidas de carro, postes pegando fogo e bombas de gás lacrimogênio. Ninguém poderá mentir para nós. Nós temos provas. Em péssima resolução, mas ainda assim provas.
Falta procurar saber do cabo que liga com o computador.
teatro
Fui ver "Mestre Haroldo ...e os meninos", de Athol Fugard, um sul-africano. Vivo, ao que parece.
Direção de Ewald Hackler (um alemão, vivo, ao que parece) e no elenco, Gideon Rosa, José Carlos Ngão e Igor Epifânio (todos vivos). Esta é a décima segunda montagem do núcleo do TCA, que monta um espetáculo por ano, sempre com uma equipe completamente diversa da do ano passado. Daí não sei porque chama "Núcleo de Teatro do TCA". Mas se chama. E essa é a 12ª montagem.
O texto se passa em 1950, uma tarde de chuva na África do Sul, em que não há movimento na lanchonete da família. Haroldinho e os empregados passam uma tarde conversando. Sem cortes, sem 'música que denota passagem de tempo'. É apenas a tarde na lanchonete e uma conversa entre os três. Os empregados, negros, Haroldinho, branco.
O texto é, em certa medida, auto-biográfico. O primeiro nome do autor é "Harold". "Mestre" é a convenção da época, do apartheid de como os negros deveriam se referir aos brancos. Qualquer negro a qualquer branco.
Quase nunca sentimos a sensação de estar assistindo a filme dublado, o que aponta para uma tradução muito bem feita, mas que faz pequenas escolhas irritantes. O apelido de Samuel é Samuca. Demais, acho. O apelido de Haroldo é Reri. Não Harry. Reri. Escrito assim no programa, pronunciado assim no espetáculo. Essas coisas acabam chamando mais atenção do que precisavam.
Mestre Haroldo é o filho dos donos, e chega da escola na lanchonete para fazer o dever de casa e dar uma olhada em como vão as coisas, como estão "os meninos". A mãe administra a lanchonete, mas não está e o pai está doente no hospital. Muito amigo dos funcionários, Reri e os meninos ficam de papo a tarde inteira. o tema vai surgindo devagar, sutil, quase não se percebe. O clímax é adiado até o último momento. Sem truque. De forma respeitosa. Até que - Ah!, é de racismo, que vocês estão falando! De como não basta ser não-racista. Há uma estrutura racista por trás do racismo. Há cimento e tijolo construído em cima dessa lógica. Não basta dar pó de pirlimpimpim para as pessoas e mostrar como todos são iguais para sermos felizes. Algumas paredes têm de ser derrubadas. O texto não aponta soluções, apenas apresenta a situação, tomando seu partido, deixando claro de que lado ele está (Athol Fugard é branco), sem ser irritante, sem ser panfletário além da conta, sem ser chato. Você acredita naquela situação e não vê como contestar. É. Tem coerência, faz todo o sentido. O texto é muito bom.
A ambientação é maravilhosa, e a direção aponta os focos muito, muito bem. Os personagens são bons, e são bem aproveitados. É realistão, então não tem trilha sonora, que não seja o que está tocando na jukebox.
Algumas coisas chamaram a atenção: Mestre Haroldo chega da escola de calça jeans, camiseta, All Star (não deu pra ver se era Converse) e mochila. Os outros personagens estão nos anos 50. Não entendi por que ele estava em 2006.
Não existia All-Star em 50 (
Existia All-Star em 50. O tênis foi criado em 1908. Se popularizou em 1917 nos EUA. Depois a fábrica deixou de fazer tênis para fazer coturnos em 1941, por causa da guerra, o que desgastou bastante a imagem da Converse. Voltou a ser popular somente na década de 70. Logo, embora não seja impossível, ainda é bastante improvável que um garoto na África do Sul em 1950 tivesse acesso a um All-Star) Nem os jovens usavam calça jeans pra ir pra escola. Muito menos camiseta. Mochila jeans nem pensar. O ar-condicionado também é anos 80. Isso é um pouco chato. Principalmente porque a jukebox, a mesa de sinuca, o balcão, a janela, as cadeiras, o figurino dos outros dois personagens são muito anos 50. Ou quase 50, que seja. Convencem. Posteres anos 50 na parede. Convencem. Mas aí surgem uns detalhes que dão uma esculhambada. Outra coisa irritante, nítidamente marca do diretor, é que todas as letras de todas as palavras de todas as frases são super ar-ti-cu-la-das o tempo inteiro. Os atores lutam para parecerem naturais, mas com essa obrigação, o desafio é constante. Uma escorregada ou outra é inevitável.
O espetáculo é grande, uma hora e cinquenta minutos, mas não cansa. Acompanhei o tempo inteiro, interessado o tempo inteiro, os três estão bem, destaque para Igor, que para mim, está melhor. Por qualquer motivos, ou por uma série de pequenos detalhes, não saí empolgado. Só gostei. Fiquei prestando atenção nos pequenos defeitos.
Sexta, sábado e domingo às 20h até 17 de dezembro na Sala do Coro. É bom.
v o l t a n d oDois meses de pausa.
Hora de voltar ao trabalho.